Entrevista: Pedro Henrique Ferreira (RJ), realizador do filme “Walter”

Algumas perguntas para Pedro Henrique Ferreira, realizador do filme “Walter”, selecionado para a Mostra competitiva de curtas e médias-metragens do CEN 2011.

Sinopse – Registros ficcionais dos últimos dias de vida do filósofo Walter Benjamin, enquanto fugia do nazismo na pequena cidade de Carapebus, no interior do Rio de Janeiro. As imagens revelam suas crises íntimas e seu caráter excepcional até em tempos de crise.

Assista ao trailer:

CEN – Por quê Walter Benjamin?

Este curta-metragem é fruto de um grupo de estudo sobre arte e filosofia com o professor Hernani Heffner. Fui incumbido de realizar o filme sobre o último dia de vida de Walter Benjamin: sua perseguição pelo nazismo e seu suicídio. Por acaso, as reflexões do Benjamin já me perseguiam há tempos. Então, aproveitei a ocasião para levá-las adiante. Interessava-me muito as ideias dele sobre reprodutibilidade técnica e o embate com a filosofia do Adorno (interpretado por mim) na escola de Frankfurt. Quer dizer: como um intelectual poderia efetivamente se aproximar de um mundo cultural e de uma classe social completamente diversa da dele, e qual seria a posição da arte frente a isto. Aproveitei, então, o fato de estar filmando um filósofo para demonstrar como, na minha opinião, um filósofo (intelectual ou artista) deveria se portar em relação ao mundo. Acabei tomando inteiramente partido daquela figura do Benjamin (nada verdadeira) lá.

CEN – Quebrar a expectativa da narrativa, surpreender, causar estranhamento, distanciar e, por fim aproximar quando chove chove ô, é método ou é liberdade; é sistemático ou é espontâneo?

Um pouco dos dois. Difícil definir exatamente. Impossível dizer que foi sistemático pois não tínhamos decupagem, locações ou sequer um roteiro. Esquecemos de levar tripé, equipamento de som, e filmamos em 2 dias numa viagem de pré de um outro filme quando, por um grande azar, nossa produtora bateu de carro em um cavalo e ficamos ilhados naquela praia, sem ter um ônibus para ir embora e sem ter como sair dali. Quer dizer, em termos de realização, foi literalmente espontâneo, sem nenhum cálculo prévio. A ideia era que o Luis Alberto (ator) fosse ser o Walter Benjamin (ele até fazia um sotaque alemão engraçado) a praticamente todo momento, e que a vida não poderia parar muito para a gente filmar dentro daquela situação um tanto surreal em que nos encontrávamos. Porém, em termos de conceito, a coisa era bem diferente. Tinha um personagem de características muito bem definidas, certos ideais de como ele deveria se portar, a situação trágica em que ele se encontrava, e uma ideia significativa do tom ao mesmo tempo triste e jocoso-alegre que deveríamos passar. No mais, tudo foi sendo construído enquanto filmávamos e bebíamos cerveja.

CEN – Que outras referências implícitas só você teve ao fazer este filme?

O cinema de Raya Martin e Albert Serra são as referências mais claras esteticamente, mas também Ozu, Miguel Gomes e Candeias. Além disto, o próprio lugar foi muito importante para o filme. É um lugar incrível. É mais do que uma referência.

CEN – No que você está trabalhando neste momento?

Estou co-dirigindo com o Thiago Brito um documentário longa-metragem sobre a Praia de Carapebus-RJ, este mesmo local onde filmamos o “Walter”: as condições de vida e o cotidiano daquelas pessoas bastante singulares naquele espaço bastante singular que tanto nos impressionou desde a primeira vez que fomos lá. E tentando tirar do papel uma quantidade imensa de outros projetos.

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